A grande maioria dos livres pensadores espíritas brasileiros que as tecnologias da comunicação estão revelando nos últimos anos, através de palestras “lives”, grupos de whatsApp, “podcasts”, “blogs” etc, além da publicação livros e monografias, são oriundos de centros espíritas e instituições tradicionais onde não mais encontraram ambiente para suas falas e questionamentos, alguns até mesmo sendo destituídos de suas funções por expressarem seus posicionamentos políticos em divergência com a visão conservadora dos dirigentes.
A multiplicação de pequenos grupamentos autônomos – alguns em formato virtual – e a interação entre seus membros através das redes sociais, está revelando um acelerado crescimento do chamado “campo” ou “segmento” contra hegemônico do MEB reunindo espíritas progressistas, humanistas, laicos e, mesmo, religiosos mas não dogmáticos, aspirantes a um espiritismo atualizado, pluralista, engajado socialmente, que dialoga com a diversidade, com o mundo acadêmico, referenciado em Allan Kardec, ponto de partida do edifício doutrinário do espiritismo, mas sem sacralização da sua obra.
Vários eventos de caráter nacional passaram a ser promovidos arregimentando intelectuais espíritas descontentes com o conservadorismo instalando-se um vigoroso processo de desdogmatização no MEB.
Nesse contexto, não pode ser menosprezada a importância da CEPA pelo pioneirismo na defesa dessas ideias, há várias décadas, inicialmente como confederação pan-americana e, a partir de 2016, assumindo sua atual configuração associativa de pessoas e instituições espíritas de vários países, com forte vocação para a geração de um movimento de ideias, sempre rejuvenescido, leve, fraterno, plural e alteritário.
A partir de 2020, a CEPA que, gradativamente vinha conquistando o respeito e a admiração de boa parte das lideranças espíritas, notadamente no Brasil, onde havia sofrido sérias resistências por parte do movimento federativo, intensifica o seu relacionamento institucional com diversas organizações e lideranças de perfil humanista e não dogmático. Essa aproximação foi impulsionada com a criação da Coordenadoria de Parcerias e Intercâmbio e de um quadro de “Amigos da CEPA” com a finalidade de consolidar laços de amizade e de troca de aprendizados.
Na “live” que a CEPABrasil promoveu no dia 17.08.2024 entrevistando o filósofo carioca Márcio Salles Saraiva, a respeito do seu livro “Espiritismo Hoje: Breve Introdução” recentemente lançado pela Editora Comenius, o presidente do CPDoc-Centro de Pesquisa e Documentação Espírita Saulo Albach lhe endereçou a seguinte pergunta: – É possível e/ou necessário reunir os espíritas progressistas, apesar das diferenças de interpretação a respeito da natureza do espiritismo, sem cair na falácia da “unificação”?
A essa questão, o entrevistado respondeu da seguinte forma: “- Eu acredito que o campo progressista poderia crescer a um ritmo bem maior e com maior consistência teórico-ideológica se ele conseguir se articular institucionalmente. Eu pergunto – Por que os espíritas progressistas, em vez de criticarem a institucionalidade conservadora, não desenvolvem outra institucionalidade? Que seja plural, democrática, horizontal… Já existem vários grupos, coletivos espíritas, presenciais ou virtuais que poderão convocar o primeiro congresso brasileiro do campo espírita progressista para pensar uma outra institucionalidade…”
Esse desafio aguçou o propósito que eu já alimentava ao perceber a necessidade de uma articulação entre esses grupamentos progressistas. Resolvi auscultar o amigo prof. Luiz Signates sobre o que achava da ideia, esta prontamente aceita com sinal verde para que eu prosseguisse nos contatos com outros coletivos.
Adotei como critério inicial convidar os grupos e organizações já integrantes do quadro de Amigos da CEPA, já que não dispunha de outros contatos.
Em 21.09.2024, representantes de dezoito (18) coletivos, institutos, centros, grupamentos especializados e associações espíritas culturais de perfil livre-pensador, humanista, plural, progressista, laico ou adogmático, com engajamento social, reunidos virtualmente, concordaram, unanimemente, em se organizar tendo por objetivo articular suas ações de maneira a impulsionar e tornar mais eficazes e exitosos os seus projetos.
Essa entidade terá mais o caráter de um movimento de articulação, com clara definição ideológica dentro de uma perspectiva humanista, progressista, adogmática, livre-pensadora, plural, socialmente engajada e referenciada no kardecismo. Ainda em estruturação, aberta a novos membros, construindo sua carta de intenções, denominação, regulamento etc., dentro do princípio da inclusão e da alteridade, deveremos atuar juntos naquilo que nos une e cada grupo continuará, com total autonomia, a fazer aquilo para o que foi criado.
É um campo em expansão, que já existia historicamente como embrião, desde os primeiros tempos do MEB, e que agora vem crescendo aceleradamente, como que “rejuvenescendo” o movimento espírita e buscando mantê-lo atual e atuante na busca de um mundo mais justo, solidário, fraterno, diverso e habitável.
Acredito ser esse um passo significativo e de grande influência nos rumos do movimento espírita.
A conferir!
“Live” que a CEPABrasil promoveu no dia 17.08.2024