O Centro Cultural Espírita de Porto Alegre convida para sua primeira palestra virtual do ciclo “Diálogos Espíritas no CCEPA”, com Milton Medran Moreira, diretor do Departamento de Comunicação Social, ex-presidente do CCEPA e da CEPA Associação Espírita Internacional, sobre o tema “O Individual e o Social: Os dois caminhos da transformação”, editorial de junho/2022 do Jornal CCEPA Opinião.
O evento será realizado pelo aplicativo Zoom Meetings e transmitido ao vivo pelo Facebook no CCEPA.
Terça-feira, 02/08/2022, a partir das 20h.
_Texto Editorial do Jornal CCEPA Opinião – Junho/2022. _
O Individual e o Social: Os Dois Caminhos da Transformação.
Por Milton Medran Moreira.
“Fatos sociais consistem em maneiras de agir, de pensar e de sentir exteriores ao indivíduo e dotados de um poder de coerção que se impõe sobre ele.” Émile Durkheim (1858-1917).
Convicto que está o espírita de sua condição de ser espiritual, primeiro responsável por sua evolução, é levado, naturalmente, à conclusão de que seus esforços pessoais em prol do próprio aprimoramento é o fator primordial, igualmente, do processo de transformação e do progresso da sociedade. Numa palavra: a transformação ética individual do ser humano – ou aquilo que alguns segmentos espíritas gostam de chamar “reforma íntima” – gera, por si só, a reforma linear da sociedade.
Esse sentimento não deixa de ter seu valor. Vista objetivamente, uma sociedade composta inteiramente de pessoas virtuosas há de ser regida, naturalmente, por valores superiores. A soma dos valores individuais positivos só poderá se refletir sociedadenuma positivamente valorosa.
A assimilação teórica e consequente vivência da virtude, entretanto, é um processo lento do ser inteligente “criado simples e ignorante”, segundo a questão 115 de O Livro dos Espíritos. Mas, segundo a mesma questão, não poderá o homem progredir sozinho, eis não dispor de “todas as faculdades” e, logo, “precisa do contato com os outros homens”, já que “no isolamento ele se embrutece e definha”.
A conjugação dessa duplicidade de caminhos – esforço individual e aprendizado social – é, pois, fundamental para o avanço tanto do indivíduo como da própria sociedade. Fechados em nós mesmos, alheios aos fatos sociais que, de tempos em tempos, sacodem e transformam o mundo, seus valores e seus costumes, tendemos, efetivamente, a nos embrutecer, escravizados a conceitos que se cristalizam em nós, por força de sentimentos primitivos, tais como o orgulho e o egoísmo.
Assim, a sociedade, mediante aquilo que Allan Kardec chamou de “a força das coisas”, tem muito a ensinar ao indivíduo e passa a ser instrumento, também, de transformação individual. Ou seja: Assim como o indivíduo tem potencial para transformar a sociedade, também, e, talvez, em maior medida, a sociedade transforma o indivíduo.
É nesse sentido que práticas consubstanciadas no que hoje é denominado como racismo, xenofobia, misantropia, homofobia e outros comportamentos, antes tão usuais e até estimulados, passaram, na contemporaneidade, a receber vigoroso combate da sociedade. E na medida em que esse combate se fortalece, vai, paulatinamente, removendo atávicos sentimentos sedimentados em grande parte de seus cidadãos.
Tome-se como exemplos, a injúria racial ou os gracejos que se faziam, na vida privada ou, mesmo, em programas de humor, a homossexuais, a negros ou outras minorias sociais. Eram práticas habituais em reuniões familiares, em espetáculos públicos, em segmentações de trabalho ou em critérios de admissão e convivência em clubes sociais ou esportivos. Fomentava-se, assim, expressa e deliberadamente, a discriminação com procedimentos então considerados aceitáveis.
Foi o amadurecimento social, muito mais do que o esforço individual de cada um de nós, especialmente dos não atingidos pela discriminação, que redundou na criação de leis, na adoção de costumes transformadores, motivando, daí, o crescimento de uma consciência coletiva não discriminatória, tendente ao respeito e à igualdade.
Se é verdade que a ocorrência enorme e aparentemente crescente de episódios de discriminação social nos revolta e apavora, também é certo que estamos, muito mais do que antes, e maciçamente, nos preocupando com eles e, desta forma, nos habilitando a combatê-los e debelá-los, não mais os escondendo e, assim, varrendo-os definitivamente de nossos hábitos sociais.
Na verdade, saímos, pouco a pouco, de nossa zona de conforto e vamos aprendendo a assimilar as tendências progressistas da sociedade, cientes de que a convivência social e o cultivo de valores coletivos engrandecem o espírito, abrindo-lhes perspectivas novas, na rota do progresso e do autêntico humanismo.
Só nos mantendo atentos às tendências sociais renovadoras, impulsionadoras da “força das coisas”, evitaremos “embrutecer” e “definhar” o espírito.
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